domingo, 30 de agosto de 2009

A Arte como possibilidade de desenvolver potenciais

apresentada no Seminário de mesmo nome
Ação Comunitária do Espírito Santo – ACES em parceria com o Intituto C&A e a Fundação Otacílio Coser
Maria Célia Chaves Ribeiro
Vitória, 27 de agosto de 2009

Agradeço ao convite para participar do Seminário “A Arte como possibilidade de desenvolver potenciais”, promovido pela Ação Comunitária do Espírito Santo – ACES, em parceria com o Intituto C&A e a Fundação Otacílio Coser, bem como à indicação de Mara Perpétua, arte-educadora que tanto admiro.

É um prazer compartilhar dessa mesa com Moema, parceira em outros momentos e lugares, e com Maria Lívia, coordenadora de projetos da instigante ONG Humbiumbi.
Tentarei abordar os três aspectos que me foram solicitados, a trajetória profissional, os conceitos e visão dos autores que embasaram essa trajetória, e minha visão sobre como a Arte pode desenvolver potenciais dentro do que acredito e defendo.

Minha trajetória profissional é sinuosa e bifurcada. Tentarei ser concisa.
Iniciarei pela produção artística, para então falar das possibilidades do desenho de observação, passar pelo trabalho de formação continuada com professores no Museu de Arte do ES, fazer referência a uma experiência em desenvolvimento com deficientes visuais no setor Braille da Biblioteca Pública Estadual e terminar com propostas de intervenção de adolescentes infratores internos do IASES.
Pedagoga em meu primeiro curso universitário, após 25 anos de formada, o nascimento de minha filha temporã, reacendeu o desejo de cursar artes visuais que havia recalcado quando da 1ª opção profissional.
Formação artística
Iniciei produzindo gravuras em metal adotando técnicas tradicionais que subverti com experimentações que propiciassem maior liberdade gestual e que me levaram à adoção do desenho e à busca no teatro como um apoio de soltura corporal.
Sempre trabalhando com a figura humana, o referencial para a produção das imagens também foi ganhando liberdade.

Das fotos alheias inicialmente utilizadas como referência, migrei para as de minha autoria, depois para filmes do circuito, estancando cenas a partir de uma busca em câmera lenta das situações mais significativas. Posteriormente adotei registros em vídeo de situações em que estava envolvida, como festivais de arte e encontros em bares e festas com os colegas e professores do mestrado em estudos literários. Passei assim a realizar um diário visual, onde também registrava pensamentos/sensações em textos.

Nessa busca pela técnica, pela expressão e pela temática, o corpo, o olhar e as mãos repetiram, na diferença, forças com as quais entrei em contato, configurando-me em movimento. A vazão ao gesto e à grafia inscreveu além de gravuras e desenhos, signos construídos com imagens externas e internas que me possibilitaram visualizar afetos, produzir significados e aprofundar um relacionamento reflexivo com o mundo e comigo mesma.


O desenho de observação
Minha experiência como desenhista e como professora das disciplinas Desenho Artístico I e II no curso Design de Moda da Faculdade Novo Milênio, voltadas a habilitar os alunos a desenharem de observação o corpo humano adulto, fizeram-me pensar sobrepotencialidades dessa atividade para a construção de identidade e de reflexão sobre o mundo.

A ação de transcrever o visto devolve aos nossos sentidos a capacidade que possuem para compreender as coisas, desprezada pela cultura Ocidental.[1]

O desenho de observação envolve tanto a razão como a sensação/intuição. Ao analisamos a estrutura, as proporções do objeto e/ou da cena a nossa frente, e elaboramos um primeiro croqui estruturante, um mapa/estudo do visto, fazemos, sobretudo, uso da razão. Mas na etapa de entrega à transcrição das formas observadas para o papel, que somente percebemos de relance para “respeitarmos”, ainda que muitas vezes transgredindo, o croqui, nesse momento age prioritariamente a sensação/intuição. Nessa atividade somos como que a coisa observada, ela nos atravessa.

Esse duplo envolvimento, da razão e da sensação/intuição, muitas vezes ocorrendo em simultâneo, contribui para desfazer o divórcio na cultura Ocidental entre o conceito e a coisa percebida, restabelecendo a visão integrada de que nos fala Rudolf Arheim em seu livro Arte e Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora.
Além disso o rastro de nossos gestos no papel traz também consigo sensações internas. Afloradas, liberadas, elas passam a nos pertencer na consciência, ainda que não revertidas em palavras.

Percebi também, enquanto orientava alunos nos desenhos de observação, que muitas vezes quando não se entregavam ao que estava a sua frente para ser desenhado, e olhavam mais para o papel onde grafavam do que para o objeto ou pessoa que deviam observar, acabavam por desenhar uma imagem interior, em geral simplificada. Por exemplo, se deviam desenhar um rosto a três quartos, acabavam por fazê-lo frontal.

Desenhar de observação enriquece o repertório imagético que temos. Propicia também conhecermos as sutilezas, as diferenças, encantarmo-nos com as sinuosidades, desprendermos de padrões estéticos impostos. O percurso minucioso do olhar sobre as formas remete ao tato, cria uma empatia com o visto. Por outro lado, a tomada de consciência da parcialidade do ponto de vista pode ser explorada para nos conscientizarmos a respeito das restrições de nossa percepção e concepção de mundo, tornando-nos mais tolerantes. Costumava brincar com meus alunos que se todos humanos desenhassem de observação e tomassem, a partir dessa atividade, ciência da parcialidade de nossos sensores voltados para o mundo, e das verdades que construímos sobre ele, os deuses alheios não seriam desrespeitados e não haveria tantas guerras.
Estou abordando a linguagem do desenho de observação como possibilidade tanto de desenvolver a visão integrada, como de gerar conhecimento daquilo que se desenha e de áreas de interesse e sensações internas de quem se envolve nessa atividade. Mas para que isso ocorra é preciso identidade com essa forma de expressão, bem como um grau de liberdade para escolher temáticas envolventes.

E ao tentar buscar conjugar esse discurso produzido a partir de uma experiência pessoal como desenhista e como professora, com uma intervenção voltada para “desenvolver potenciais de crianças e adolescentes, bem como experiências de fortalecimento do sistema de garantia de seus direitos”, fica claro a necessidade de articulação de instituições diversas para permitir que ações de cada uma, ainda que bem estruturadas, possam frutificar. Aliás, não é por acaso que nessa mesa estamos tratando de experiências realizadas em organizações governamentais e não governamentais, por exemplo.
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MAES - Formação continuada de professores de Artes no período de 2003 a 2007[2]
Passo agora a abordar as ações educativas desenvolvidas pelo MAES, em parceria com outras instituições, voltadas para a formação continuada de professores de Artes no período em que respondia pelo setor de ação educativa, de 2004 a 2007.

O MAES é o único museu público de arte do Espírito Santo, estado cujo circuito das artes se restringe praticamente à Grande Vitória. No período abordado essa situação era agravada tanto pela oferta de curso superior em artes visuais apenas pela UFES em seu campus de Vitória, como pela incipiência da produção e difusão de estudos sobre a arte contemporânea brasileira. Se tivemos uma alteração desse quadro com a criação do curso de artes à distância pela UFES, e com a produção de dissertações de mestrado e teses de doutorado que recentemente proliferaram no país, ainda convivemos com a defasagem de professores de artes que se formaram antes da inclusão de disciplinas que contemplam arte contemporânea no currículo da UFES, bem como com a prática de professores com formação em outras áreas de conhecimento administrando aulas de artes no ensino fundamental e médio.

Essa conjuntura aumentava a responsabilidade do MAES no sentido de desenvolver ações que contribuíssem para ampliar as oportunidades de professores de artes e de alunos, do ensino fundamental e médio para terem acesso a objetos de arte, estabelecerem uma interlocução sensível e pensante com os mesmos e produzirem objetos visuais. Essa foi a clientela que estabelecemos como prioritária na reabertura das ações de um museu, com apenas cinco anos de existência e ainda sem uma política de atuação traçada.

Um dos maiores desafios foi definir eixos orientadores de calendários anuais de mostras que buscassem cobrir lacunas do circuito das artes na Grande Vitória. Fecundado pelo ciclo de palestras COMO SER MAES[3] as exposições do museu passaram a ser planejadas anualmente, buscando contemplar tanto a arte contemporânea nacional e local como a produção histórica consagrada.
A primeira atividade relacionada à formação de professores aconteceu a partir de um convite realizado em 2004, pela colega de mesa Moema Rebouças, coordenadora do Pólo Arte na Escola de Vitória. Visava lançar o Pólo Arte na Escola em Vitória, distribuir e realizar oficinas apresentando e explorando possibilidades de uso do material didático arte br[4] em Vitória e nos 11 municípios sede das Superintendências Regionais de Ensino – SRE, da Secretaria da Educação do Espírito Santo – SEDU.

Iniciante como arte-educadora do MAES, com apenas duas exposições de percurso que reabriram o museu depois de um período desativado, fui pega de surpresa! Quem conhece Moema sabe, ela propõe já encaminhando, dando soluções, ágil e suave. Assim quando dei conta já estávamos fechando uma parceria envolvendo o Pólo Arte na Escola de Vitória, a UFES, o MAES e a SEDU através da Coordenadora do Núcleo de Currículo de Artes Plásticas, Mirtes Moreira.
Em abril de 2004 realizamos um coquetel de lançamento do Arte na Escola em Vitória e do material didático arte br e abertura da exposição das duas obras contempladas no arte br: uma fotografia sem título de Sebastião Salgado do ensaio “A luta pela terra”, do acervo do MAES e “Salvai as nossas almas”, de Siron Franco doada na ocasião pelo artista. Oferecemos também 12 oficinas de quatro horas de duração, para professores de artes do ensino fundamental e médio dos Municípios da Grande Vitória, apresentando o kit arte br e suas possibilidades de uso, e distribuímos 210 exemplares para os professores participantes.


Em junho e julho desdobramos a atividade com o Projeto “O museu pega a estrada com o arte br” e percorremos os municípios de Afonso Cláudio, Barra de São Francisco, Cachoeiro do Itapemirim, Colatina, Guaçuí, Linhares, Nova Venécia e São Matheus, realizando a oficina e distribuindo kits para 200 professores de todos os municípios não pertencentes à Grande Vitória. Na ocasião divulgávamos o MAES e incentivávamos a visitação ao museu para que as obras em exposição inclusas no kit arte br fossem vistas. Várias escolas do interior atenderam ao convite.

Essa experiência bem sucedida veio de encontro à direção que a Secretaria de Cultura desejava imprimir ao MAES: ser um museu voltado para o Estado e não apenas circunscrito à Grande Vitória. Por outro lado nos fez perceber que se não tínhamos recurso para produzir material didático não nos faltava competência para distribuí-los.

Assim, quando em dezembro do mesmo ano a novembro de 2005 realizamos a Exposição Itinerante de Gravuras de Dionísio Del Santo na coleção do MAES, em parceria com a SEDU, através do núcleo de Currículo de Artes Plásticas, conseguimos o apoio do Itaú Cultural que doou 80 kits do material didático Caixa de Cultura Gravura. Além disso produzimos um folder contendo cópias das gravuras de Dionísio Del Santo presentes na exposição.

Esta ação voltada para a expansão das fronteiras do MAES, contou com dez reproduções fotográficas no tamanho original de gravuras (oito serigrafias e duas xilogravuras) de Dionísio Del Santo, artista capixaba cuja retrospectiva inaugurou o MAES em dezembro de 1998.

Em cada um dos onze municípios percorridos foi realizada a palestra “História da Gravura”, de quatro horas de duração e fartamente ilustrada, bem como ofertada a “Oficina Prática de Técnicas de Gravura”, com carga horária de dezesseis horas, realizadas e ministradas pelos professores Fernando Gómez, Maria das Graças Rangel e Júlio Tigre.


Cada município do Espírito Santo recebeu uma Caixa de Cultura Gravura que ficou sob a guarda de uma escola e disponível para empréstimo. Participaram das atividades 250 professores de todos os municípios do Espírito Santo, e mais de 3.000 pessoas visitaram as exposições. A divulgação do MAES no interior entre os professores do estado incentivou excursões de alunos para visitar suas exposições.

Em 2006 continuamos a parceria com a SEDU, porém em outro formato. A cada exposição do MAES realizávamos oficinas em Vitória, relacionadas à técnica e temática abrangidas contemplando conteúdos de artes e de outra área de conhecimento. Dessa forma buscávamos através da interdisciplinaridade conscientizar professores de outras disciplinas acerca da especificidade das artes visuais. Participavam das oficinas três profissionais de cada SRE: um professor de arte, outro de disciplina relacionada com o conteúdo da exposição e um técnico da Superintendência. Posteriormente eles reproduziam a oficina para professores dos municípios de suas Superintendências acompanhados por Mirtes Moreira, então responsável pelo núcleo de Currículo de Artes Plásticas da SEDU.

Colocamos em prática essa formação continuada em duas exposições do museu: “Universo do Cordel”, de curadoria de Franklin Espath Pedroso e PedroKarp Vasquez, aberta em 11 de abril de 2006, uma coletiva de poetas e xilogravadores de cordel; e “Camille Claudel – a sombra de Rodin”, de curadoria de Romaric Sulger Büel e de Reine-Marie Paris de La Chapelle, aberta em 30 de agosto de 2006, contendo obras de Camille Claudel, Auguste Rodin e Alfred Boucher.

Para a exposição “Universo do Cordel” foram ofertadas as oficinas de “Produção de texto”, com Paulo Roberto Sodré, professor Doutor do curso de Letras da UFES, de duração de oito horas e a de “Ilustração com técnicas de gravura” com Fernando Gómez Alvarez, Professor Mestre do curso de Artes Visuais da UFES, também com oito horas de duração.


Além disso os envolvidos na formação realizaram uma visita intermediada à exposição e participaram da palestra com J. Borges sobre a experiência do artista a respeito da produção e circulação de cordel no Brasil.

Onze professores de artes, onze de língua portuguesa e os onze responsáveis pelas Superintendências Regionais de Ensino do ES participaram da oficina. Ao final todos produziram cordéis escritos e ilustrados por eles próprios. O desdobramento da atividade nas escolas de origem surtiu muitos frutos tendo culminado em alguns com feiras públicas dos cordéis produzidos pelos alunos, como ocorreu em Cachoeiro de Itapemirim, por exemplo.

Por ocasião da exposição: “Camille Claudel – a sombra de Rodin” a formação continuada iniciou no primeiro dia com a Oficina de Modelagem em Argila, com artistas do Grupo Queima de Cerâmica, com oito horas de duração.


Na manhã seguinte o professor da UFES Attílio Colnago Filho ministrou a palestra ilustrada “A evolução histórica da apresentação da figura humana nas artes plásticas”, com quatro horas de duração. No turno da tarde a Professora mestre Patrizia Lovatti conduziu a “Oficina de matemática vinculada à arte, baseada na exposição Camille Claudel”, quando trabalhou questões como o cálculo do ponto de ouro, proporções do rosto e do corpo humano e cálculo de sua regularidade a partir de fotos dos alunos da oficina e das esculturas de Camille Claudel, dentre outras.
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Além disso os professores participaram da palestra “Paris 1900”, proferida por Romaric Sulger Büel, curador da exposição e realizaram uma visita intermediada à exposição.
Participaram dessa atividade onze professores de artes, onze de matemática e os onze responsáveis pelas Superintendências Regionais de Ensino do ES de diversos municípios do ES.


Oficina para deficientes visuais
A exposição “Camille Claudel” propiciou o contato tátil de deficientes visuais com as obras expostas. Essa experiência de inclusão cultural foi bem sucedida e emocionante.
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A pontualidade dessa ocorrência incomodou-me e gerou uma inquietação em busca de alternativas para viabilizar a participação de deficientes visuais em todas as exposições do MAES.


Como as obras de artes visuais são criadas para serem vistas, mesmo quando apelam a outros sentidos, como é comum na produção contemporânea, o desenvolvimento de uma proposta de inclusão de deficientes visuais a exposições supõe a compreensão do que seja a experiência visual dos videntes, de como ocorre a apreensão visual do mundo à frente do observador, e o entendimento dos mecanismos implícitos na transcrição de imagens “do mundo” tridimensional para suportes bidimensionais palpáveis a que denomino foto-de-recorte e foto-objeto.

Essa metodologia está sendo testada atualmente na Biblioteca Pública do ES em interlocução com cegos, com pessoas com déficit de visão e com Maria Joana de Souza, Bibliotecária responsável pelo Setor Braille.


O contato com os deficientes visuais que freqüentam o setor Braille da Biblioteca Pública retirou o chão de minhas certezas a respeito do primado da visão. A possibilidade de captar o mundo e vivenciar as relações entre humanos sem o assédio de imagens, sem o caos visual a que estamos submetidos fez-me sentir deficiente. Esse abalo reverteu umareação maternal, condolente, piegas que me era bastante comum quando em presença de deficientes: a de buscar dar amparo ao que se é frágil.

Fragilidade faz parte da vida, não é a toa que os “seres de sensação”, como nomeia Deleuze e Gattari os objetos de arte, enfrentam o caos, criam um finito que restitui o infinito. A relação com os “habitantes” do setor Braille fez-me devir-outra.
Antes de passar para o último tópico a ser abordado, retomo aqui à proposta do seminário: como a Arte pode desenvolver potenciais dentro do que acredito e defendo?
Para responder a essa questão cito uma palestra gravada pelo Itaú Cultural sobre arte contemporânea realizada por Celso Favaretto, filósofo e professor da Faculdade de Educação da USP.

Segundo ele, “uma experienciação da arte e sua diversidade podem levar a uma mutação na sensibilidade que faz com que a gente surpreenda significados surpreendentes onde normalmente só se vê repetição.”

Por ser simbólica, por gerar simbolismos, a arte nos permite viver no cotidiano “nossas próprias experiências de maneira diversificada”. A arte ensina a ver, ensina a sentir. (...) Ela “é essa experiência da delicadeza, das nuances. A percepção das nuances na arte, o sentimento das nuances na arte é uma espécie de treinamento, não consciente, para a percepção de outras coisas na vida.”

Complementaria com a sensação de alegria que essa abertura na percepção do mundo, gerada pela arte pode causar. Fernando Pessoa em um trecho de “O guardador de rebanhos”, de Alberto Caeiro, ilustra a busca pelo desvencilhamento do conceito parase entrar em relação com a coisa percebida:

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só
muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa a roupa (o fato) que os
homens o fizeram usar.
Procuro despir do que aprendi,
Procuro esquecer do
modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os
sentidos
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e
ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.


Para abordar a questão da democracia cultural, termino essa comunicação divulgando algumas propostas de intervenções realizadas por internos do Instituto de Atendimento Sócio Educativo do Espírito Santo (IASES), resultado de oficina ministrada por Marcel Nascimento Rosa, estudante de Artes Visuais da UFES, sob a orientação de Erly Vieira Júnior e minha, por ocasião da Bienal do Mar promovida pela Prefeitura de Vitória através da Casa Porto das Artes.
Durante três sábados Marcel, mediador da Bienal que também desenvolvia um trabalho de oficina de informática com os adolescentes internos do IASES, levantou junto ao grupo (legalmente impossibilitado de ir ao local da exposição), uma série de discussões sobre o conceito central da Bienal, bem como a noção de intervenção urbana e o caráter interativo da arte contemporânea.

Ao final da oficina, os participantes criaram uma apresentação de slides em PowerPoint, na qual propunham idéias de intervenção urbana, de modo a fazer interagir o contexto em que vivem, e seus universos pessoais, marcados pelo imaginário da violência e da criminalidade, com a paisagem urbana do centro de Vitória e a sociedade em geral.




Notas

[1] ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual – Uma Psicologia da Visão Criadora. 8° Edição. São Paulo: Livraria pioneira Editora, 1994
[2] Secretária de Estado de Cultura do ES no período: Neusa Mendes; Diretores do MAES no período: Fabrício Coradello, Inah Durão e Rafaela Zanete.
3] COMO SER MAES, iniciado em setembro de 2004, trouxe ao estado nomes Moacir dos Anjo, Diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM, Recife), Nilton Campos, Arquiteto e Urbanista, artista plástico, diretor de arte teatral, Coordenador de Artes Visuais, Coordenador do MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto, Fernando Cocchiarale Crítico de arte; professor de Estética do Departamento de Filosofia e do Curso de Especialização em História da Arte e Arquitetura do Brasil, PUC-Rio; e professor da EAV / Parque Lage, RJ. Em 2000, assumiu a curadoria do MAM- RJ, Guilherme Vergara Professor do Departamento de Arte da UFF e diretor da Divisão de Arte Educação do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Marília Panitz Coordenadora das ações educativas do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, Milene Chiovatto Coordenadora da Área de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo e artista plástica, Stela Barbieri Artista plástica, Diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake, dentre outros, para discutir temas "Como curar museus", "Acervo: Por que, De que, Para que, Para quem?", "O Público do Museu Público", etc.
[4] Autor: INSTITUTO ARTE NA ESCOLA Título: KIT ARTE BR : REDE ARTE NA ESCOLA
Notas: BBE. Realização, Arte na Escola, Instituto Arte na Escola. Créditos: texto, Eliana Braga Aloia Atihé ; produção, Trust Design & Multimídia ; coordenação geral, Instituto Arte na Escola ; patrocínio, Petrobrás. Conteúdo: Kit Arte Br (4 minutos, 43 segundos) -- Rede Arte na Escola ( 2 minutos, 42 segundos). VHS.
http://www.inep.gov.br/pesquisa/bbe-online/det.asp?cod=2143&type=OM

domingo, 19 de julho de 2009

O museu de arte e a construção da democracia cultural

Palestra proferida no Seminário
Museu x Comunidade: uma experiência concreta
Museu de Arte do Espírito Santo - 1º de julhode 2009
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Por que um museu deve abrir suas fronteiras para a comunidade? O que se ganha com a relação museu-comunidade? Quem ganha?
Não pretendo aqui responder com certeza estas questões. Busco, antes, assumi-las como um campo de inquietação e de oportunidade para formular propostas institucionais de atuação.
Em estudos e pesquisas sobre cultura e cidadania surgem dois motes que implicam propostas de atuação de instituições culturais, como museus de arte, em relação à comunidade.
O primeiro é: “inclusão cultural”.
Esse mote atesta tanto a existência de algum bem (no caso dos museus de arte seria seu acervo, os conhecimentos a que remete, a cultura ligada à história das artes visuais, o conhecimento ocidental que com elas dialoga, por exemplo) como a afirmação da acessibilidade a esse bem estar restrita apenas a uma parcela da população, significando uma situação de exclusão de setores da sociedade.
As políticas de inclusão cultural buscam ampliar a visitação aos museus, divulgando-os, criando parcerias com escolas, instigando a comunidade a conhecê-los, oferecendo serviços que viabilizem a fruição, como intermediações que dialogam com os visitantes e acrescentam informações sempre que necessário e quando por eles solicitadas. Procuram também oferecer atividades que permitam experimentar o fazer em diálogo com os conceitos envolvidos em cada tipo de produção, conhecer aspectos relacionados a obras, objetos ou realizações em exposição etc.
Outro mote é “democracia cultural”. Ele não anula o anterior, mas o inclui e vai além.
A expressão “democracia cultural” implica a adoção de uma postura ao mesmo tempo de orgulho e de humildade por parte dos profissionais envolvidos com a cultura oficial. Orgulho pelo que se possui, no caso do museu de arte, o já descrito anteriormente. Humildade por saberem que desconhecem a diversidade da produção visual advinda dos diferentes grupos que compõem a sociedade, sobretudo a plural sociedade brasileira.
Embora um museu de arte estadual não seja apenas da cidade, para não complicar muito o debate sobre a relação do museu com a comunidade, vou considerar esse equipamento a partir do espaço urbano onde fisicamente se encontra localizado.
Vejamos, nas palavras de Jorge Luiz Barbosa, Coordenador do Observatório de Favelas e professor da Universidade Federal Fluminense, motivos que endossam a necessidade de estimular uma democracia da cultura que permita a construção de uma identidade urbana plural:
A cidade é o encontro dos diferentes. A cidade é a expressão da pluralidade de vivências culturais, afetivas e existenciais. A padronização cultural da vida rouba da cidade a criatividade necessária para inventar a alegria e a felicidade. A homogeneização das práticas socioculturais enfraquece o significado do conviver e do aprender com a presença do outro. Significa dizer, portanto, que é preciso reconstruir a identidade da cidade pelo reconhecimento da diversidade cultural como um valor da existência.[1]
Quando, no final dos anos 40 e início dos 50 do século passado, surgem nossos primeiros museus de arte moderna, como o MAM de São Paulo e o do Rio de Janeiro, 36% da população brasileira, em torno de 18.780.000 pessoas, residia nas cidades.
Meio século depois, em 2000, praticamente no ano seguinte ao da criação do MAES no Espírito Santo, 81% dos brasileiros estavam morando nos centros urbanos, quase 170 milhões de habitantes.
Esse adensamento das cidades brasileiras ocorreu sem planejamento. Parte do fluxo de migrantes do campo chegou aos centros urbanos, por exemplo, sem condições de comprar ou alugar um imóvel. Para morar e sobreviver precisou invadir terrenos, improvisar moradias e inventar atividades econômicas informais.
Estes problemas sobrepuseram a outros anteriores, que só recentemente começam a ser enfrentados com políticas públicas, como é o caso da inserção dos ex-escravos como cidadãos na sociedade e dos índios que resistiram ao massacre da política colonizadora.
A história de nossa recente democracia compõe com a realidade de desigualdades existente no país. Dos 112 anos desde a proclamação da República vivemos com liberdade partidária e direito a voto secreto apenas em 41 anos;[2] pouco mais de um terço da existência de nosso sistema republicano.
Somos um país de muitas realidades, de práticas socioculturais diversas e diferentes “cidadanias”, incompletas cidadanias, que se refletem na esfera da cultura. São desiguais as condições para criar, fazer circular a produção e fruir o produzido. Trocamos poucas figurinhas. Desconhecemo-nos. Desconhecemos a concretude da violência a que está submetida grande parte da população urbana deste país. Não é a toa que “Cidade de Deus”, filme dirigido por Fernando Meirelles, por exemplo, foi um soco no estômago de muitas pessoas que podem frequentar cinema neste país. E quando falo ‘desconhecemos’ refiro-me aqui aos incluídos nos circuitos oficiais das artes.
Mas a desigualdade de acesso ao fazer, de colocar em circulação o produzido e de fruir também faz de nós frequentadores do circuito oficial excluídos da produção visual realizada fora desse circuito, e daquela que nem mesmo chega a se realizar, por falta de condições propícias.
Hélio Oiticica, a partir de sua imersão na Mangueira, gera uma abertura da arte brasileira a outro tipo de pensamento visual, de definição de obra, a sinestesias do corpo/parangolés, trajetória essa interrompida no país durante a ditadura militar.
Pensando nele e em Emanuel Nassar e tantos outros que foram atrás da construção de visualidades e experiências produzidas fora das fronteiras oficiais é que imaginei uma das tarefas possíveis a um museu de arte que se preocupe com a construção da democracia cultural.
Aqui volto a pensar no MAES e na experiência Piedarte.
Em parceria com as escolas que atendem crianças e jovens do bairro Piedade (Vitória) e com o apoio dos artistas educadores do projeto Piedarte, que com sensibilidade e profissionalismo afirmaram um encontro mediado por construção de visualidades com os pequenos moradores/crianças do bairro, poderia ser desenvolvido um trabalho com os alunos de registro das produções visuais do bairro/população. Visualidades essas que abarcam: o corpo e sua produção, a ousadia dos cortes de cabelo, das roupas; as resoluções plásticas da arquitetura e da organização dos espaços internos das habitações, dos móveis, das dispensas, bem como das áreas externas, dos becos, ruelas, vendas; os fanzines ou outros materiais de divulgação de grupos de música locais etc.
Essas produções visuais podem ser discutidas entre moradores do bairro, considerando, por exemplo, as sensações que causam no observador, a relação entre essas sensações e a forma como os elementos visuais foram tratados, o diálogo que estabelecem com as imagens veiculadas pelos meios de comunicação, a comparação das soluções estéticas encontradas com a produção de artistas brasileiros que dialogam com esse tipo de composição, a pertinência entre o desejado por quem as produziu e o efeito final, as técnicas utilizadas etc.
Essa pesquisa pode iniciar um banco de imagens no MAES que possibilite acompanhar mudanças ao longo do tempo e suscitar estudos sobre sua iconografia. Ela pode ser difundida através de publicações em papel e/ou em meio virtual.
A vivência desse processo propicia um encontro dos moradores com sua produção, dos professores, dos artistas/educadores, dos monitores do MAES com o imaginário visual dessa população. Favorece a intermediação entre as exposições do museu, os conceitos/conhecimentos envolvidos nos objetos expostos e o repertório visual dos visitantes. Aprofunda o diálogo entre professores e alunos e entre os artista/educadores e a comunidade.
Ela constitui uma etapa importante, estimulante, porém não suficiente para viabilizar a produção de visualidades e sua circulação por parte dos moradores da Piedade. É preciso criar ateliês livres, com recursos mínimos e interlocução sensível e profissional, inventiva, lúdica e ao mesmo tempo metódica e rigorosa,[3] que estimulem e permitam a produção de objetos, imagens, vídeos por parte de crianças e jovens que se identifiquem com essas formas de expressão. É preciso estabelecer locais de exposição da produção resultante. Interessante seria que fossem criados ateliês em vários bairros e que se estabelecesse um período anual em que todos estivessem abertos ao público para visitação, quando poderiam ser organizadas excursões escolares para percorrê-los.
Embora nem toda a produção visual daí resultante necessariamente tenha força suficiente para se manter por si como um bloco de sensações, uma das condições necessárias, segundo Deleuze e Gattari, certamente envolverá sensações, percepções e afetos. A interlocução sobre sua concepção, produção e resultado propiciará uma troca existencial sobre as coisas do mundo e da vida, inserindo os interlocutores como sujeitos criativos, favorecendo, como diz Jorge Luiz, inventar a alegria e a felicidade.

Bibliografia
BARBOSA, Jorge Luiz. Cultura e território como política pública. Portal da Fundação Perseu Abramo. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/makepdf.php?storyid=3897> Acesso em: 30 jun. 2009. BOTELHO, Isaura; FIORE, Mauricio. O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo: relatório da primeira etapa da pesquisa. Centro de Estudos da Metrópole. São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.centrodametropole.org.br/t_pesq_antes.html Acesso em: 15 out. 2008. BOUSQUAT, Aylene; COHN, Amélia. “A construção do Mapa da Juventude de São Paulo”. Lua Nova, São Paulo: Cedec, n° 60, 2003, pp. 81-96 (ISSN 0102-6445) CAMPOS, Haroldo de. Entrevista à Folha de São Paulo de 26 de julho de 1987. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Munoz. Coleção TRANS, Editora !34 DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole. Cultura e Uso do Tempo Livre na Metrópole. En publicación: DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole, n. 1. CEM/CEBRAP, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, São Paulo, Brasil: Brasil. Abril-mayo-junio, 2004. Acceso al texto completo: http://www.centrodametropole.org.br/reportagens_cultura.html Prefeitura da Cidade de São Paulo. Mapa da juventude, SEPP: Coordenadoria da Juventude. SP: S.d.. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/participacao_parceria/coordenadorias/juventude/projetos/0002 Acesso em: 16 out. 2008. RIBEIRO, Célia. Pesquisas e indicadores de cultura. Instituto Jones dos Santos Neves. No prelo.
Notas
[1] BARBOSA, Jorge Luiz. Cultura e território como política pública. Portal da Fundação Perseu Abramo. Disponível em: http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/makepdf.php?storyid=3897 Acesso em: 30 jun. 2009.
[2] Três anos do governo Constitucional de Getúlio Vargas (de 1934 a 1937), dezenove anos entre 1945 e 1964, e os dezenove anos compreendidos entre o retorno das eleições livres após a ditadura militar, em 1990, aos dias de hoje.
[3] Atributos que Haroldo de Campos conferiu a Hélio Oiticica em entrevista à Folha de São Paulo de 26 de julho de 1987.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PESQUISAS E INDICADORES DE CULTURA

NOTA TÉCNICA - por publicar
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
SECRETARIA DE ESTADO DE ECONOMIA E PLANEJAMENTO - SEP
INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES – IJSN

PESQUISAS E INDICADORES DE CULTURA

Vitória I 2008

Maria Célia Chaves Ribeiro
Técnica da área de Estudos Sociais do IJSN

Introdução
Em 2004 o Ministério da Cultura, conveniado com o IBGE, decidiu criar o Sistema de Informações e Indicadores Culturais. Tendo redundado em uma base de informações sobre a economia da cultura e sobre a gestão municipal da cultura, a iniciativa vem sendo enriquecida com estudos e pesquisas públicas, estaduais e municipais, que repertoriam os bens culturais e estudam a dinâmica cultural plural das cidades, identificando novas práticas culturais.
Qual o papel do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) nesse cenário?

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Em 2004 o Ministério da Cultura estabeleceu um convênio com o IBGE para desenvolver uma base “consistente e contínua de informações relacionadas ao setor cultural e construir indicadores culturais”. Como primeiros resultados, esse instituto gerou duas linhas de produtos: o Sistema de Informações e Indicadores Culturais e o Perfil dos Municípios Brasileiros - Cultura.
O Sistema de informações e indicadores culturais, com análises e informações agregadas para o País, para as Grandes Regiões e por Unidade da Federação, aborda a “produção (oferta) de bens e serviços, os gastos (demanda) das famílias e do governo, e as características da mão-de-obra ocupada (emprego)” do setor cultural. Para tanto, consolida resultados de sete bases estatísticas de dados regularmente produzidas pela instituição (Cadastro Central de Empresas; Pesquisa Industrial Anual - Empresa; Pesquisa Anual de Comércio; Pesquisa Anual de Serviços; Pesquisa de Orçamentos Familiares; Estatísticas Econômicas das Administrações Públicas; e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

O IBGE já publicou duas versões desse estudo. A primeira, relativa a 2003, foi lançada em 2006. A segunda, abrangendo o período de 2003 a 2005, foi disponibilizada em 2007. Esta versão incorporou informações obtidas no Perfil dos Municípios Brasileiros 2006 - Cultura.
O Perfil dos municípios brasileiros 2006 (cultura) foi realizado a partir de um suplemento especial de cultura inserido na Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), tendo como unidades de coleta as prefeituras de todos os municípios brasileiros.
Os resultados foram agregados “por faixas de tamanho populacional dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação, e abrangem informações sobre o órgão gestor da cultura nas municipalidades; condições de sua infra-estrutura para o cumprimento da função; recursos humanos e orçamentários da Função Cultural da administração municipal; instrumentos de gestão utilizados; legislação específica sobre o tema; existência e funcionamento de Conselhos, Fundos e Fundações Municipais de Cultura; atividades artísticas e artesanais desenvolvidas, nas suas mais diversas manifestações, apoiadas ou não pelo poder local; e meios de comunicação e equipamentos culturais existentes nessas localidades”.

Tais estatísticas, organizadas em textos analíticos e em um conjunto de tabelas, gráficos e cartogramas, estão disponibilizadas em duas mídias. Uma delas, acessível no site do IBGE, apresenta informações agregadas por faixas de tamanho populacional dos municípios, Grandes Regiões e Unidades da Federação. A outra, em duas versões, a digital e a impressa, inclui informações para cada um dos 5.564 municípios existentes no País.

Segundo Cristina Lins, da equipe responsável pela publicação do Sistema de Informações e Indicadores Sociais do IBGE, o projeto desse sistema é “preencher uma lacuna na produção e disseminação de bases de dados, estatísticas, informações, indicadores e análises, por parte do Estado, sobre o tema da cultura, como é tradição consolidada em diversos países”.
Sobre o Perfil dos municípios, Cristina Lins afirma que o objetivo “é criar uma base de dados institucional em nível municipal e construir um perfil dos municípios com base na gestão de suas administrações municipais”.

Entretanto, embora o foco do Sistema de Informações e Indicadores Sociais do IBGE permita dimensionar a economia da cultura e as gestões municipais, deixa em aberto uma série de questões relativas ao dinâmico e plural campo da cultura, que carece de complemento de outras pesquisas, inclusive qualitativas.

É possível citar alguns exemplos de iniciativas bem sucedidas de pesquisas, realizadas por instituições governamentais, voltadas para uma maior aproximação com os aspectos da cultura relevantes para o desenvolvimento de políticas públicas, sejam as diretamente ligadas à cultura, sejam as que estabelecem interface com essa área.
Em busca de repertoriar o universo da cultura, alguns governos realizaram censos sobre esse setor. Foi o caso da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que, em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), realizou o Censo do setor cultural. Aplicado nos 645 municípios existentes, o censo resultou na atualização da versão de 2001 do Guia cultural do Estado de São Paulo, apresentada em três tomos, divididos em sete volumes gerais e dois temáticos.

Esse guia registra os equipamentos culturais e os grupos e cursos nas áreas de artes plásticas, cênicas e visuais existentes em todo o Estado. Cataloga o calendário anual de festas e eventos vinculados a tradições regionais, divulga as atividades de artistas e artesãos, documenta o patrimônio histórico e artístico e levanta as origens e o potencial econômico e social de cada um dos municípios paulistas.
O 1º Censo Cultural da Bahia é outro exemplo de iniciativa semelhante. Realizado entre 2002 e 2006 em 417 municípios, gerou o Banco de Dados Culturais, organizado e permanentemente atualizado pela Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia e disponibilizado no site http://www.censocultural.ba.gov.br/ccb_home.asp.
Algumas se voltam para subsidiar políticas de inclusão cultural no circuito oficial. Estudam a oferta, o acesso, a qualidade e a recepção de serviços socialmente legitimados de cultura, em especial os ofertados pelo setor público, como peças de teatro, exposições, shows de música, filmes, acesso à Internet etc. Em geral, essas pesquisas são realizadas com o público de instituições como museus, teatros, galerias etc.
Existem, entretanto, pesquisas que procuram compreender a estruturação de novas redes de identidade e pertencimento bem como conhecer a criação de bens simbólicos circunscritos a diversos e diferenciados grupos de identidade. A ciência e o mapeamento de novas práticas e produções culturais permitem a formulação de políticas voltadas para o incentivo de sua produção e circulação, favorecendo a visibilidade de novas modalidades culturais, potencializando o enriquecimento das trocas simbólicas na sociedade.
Essas duas direções de pesquisas complementam-se ao buscarem socializar e gerar interlocuções entre dois circuitos culturais: o oficial, já estabelecido, canonizado e institucionalizado, e o que insurge através de novas modalidades e associações. Contribuem, assim, para facilitar uma inserção cultural de mão dupla.
Além disso, ao se voltarem para o estudo da dinâmica da pluralidade cultural e para a compreensão das mudanças de comportamento da população em suas práticas e consumo cultural, favorecem o desenvolvimento de políticas democráticas e eficazes, por se pautarem no respeito à diversidade de formas de sociabilidade e no reconhecimento de grupos com identidades diversas, pautadas na adoção de repertório simbólico e de valores específicos.
A pesquisa O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo é um exemplo de estudo voltado para o conhecimento da diversidade cultural. Realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), em parceria com a Fundação Seade, essa pesquisa partiu do pressuposto de que na democracia cultural existem públicos diversos, não um único e homogêneo, reconhecendo que são variados os paradigmas legitimadores das práticas culturais. Assim, buscou “fazer um reconhecimento das opções feitas pelos habitantes envolvendo aquilo que se pode chamar de práticas culturais, tanto do ponto de vista das manifestações eruditas quanto populares”, para “detectar novas práticas, novas formas de sociabilidade, novos usos do espaço público, os usos do espaço privado e a posse de equipamentos/bens de natureza cultural”.
Na primeira etapa da pesquisa foram aplicadas 2002 entrevistas objetivas em uma amostra da população com mais de quinze anos residente na Região Metropolitana de São Paulo. No segundo estágio recorreu-se, por meio de entrevistas de 45 minutos de duração, a uma sub-amostra de 93 pessoas, que detalharam as práticas relatadas na primeira fase e discorreram sobre a sua vida, a trajetória de sua família e a mobilidade espacial na metrópole.
Também a Prefeitura Municipal de Porto Alegre realizou pesquisa semelhante, denominada Pesquisa de Consumo Cultural na Cidade de Porto Alegre, através da Assessoria de Estudo e Pesquisa (Assespe), para citar outro exemplo.
Com um foco ainda mais microscópico, a Prefeitura de São Paulo apresentou um diagnóstico da juventude daquela cidade, através de pesquisa realizada pela Coordenadoria Especial da Juventude (CEJ) em parceria com o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec).
A partir de estudo feito em quatro etapas (aplicação de questionário nos domicílios para 2.300 jovens; cruzamento de dados das pessoas cadastradas no Bolsa Trabalho; cadastramento dos grupos de jovens; e levantamento dos locais de lazer da cidade), foram cadastrados 1.609 grupos juvenis no município de São Paulo, reunidos em torno de alguma atividade, esportiva, recreativa, cultural, social, política ou religiosa, ou de algum fim comum, com a característica da habitualidade, envolvendo 303.592 jovens.
“A pesquisa buscou saber o que motiva esses jovens, em torno do quê se organizam, qual é sua linguagem, como vivem e atuam, o que pensam e produzem, quais são seus grupos, símbolos e valores, estabelecendo assim um perfil dos jovens paulistanos. O Mapa, além de apontar os grupos jovens, valoriza os diversos movimentos urbanos por eles protagonizados.”
Esse estudo resultou na elaboração do Mapa da juventude da cidade de São Paulo, constituindo o principal instrumento de subsídio e planejamento de políticas públicas para os jovens residentes na capital paulista, bem como para todas as instituições com atuação voltada à juventude.
Outra vertente de pesquisas na área de cultura é a de avaliação da aplicação das leis de incentivo à cultura, como a realizada pela Fundação João Pinheiro, que em 2003 publicou Prestando contas aos mineiros: avaliação da lei estadual de incentivo à cultura da Fundação João Pinheiro. Trata-se de um “relatório elaborado por pesquisadores da área de Estudos Históricos e Culturais da Fundação João Pinheiro que apresenta um estudo da Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais nos quatro primeiros anos de sua vigência, entre 1998 e 2001. No estudo, são avaliados os resultados obtidos através da Lei, apresentando o montante de recursos gastos e sua distribuição”.

Estudos e pesquisas na área de cultura realizadas pela Fundação/Instituto Jones dos Santos Neves

No período entre 1976 e 1978, a então Fundação Jones dos Santos Neves realizou vários estudos e pesquisas sobre o patrimônio histórico do Espírito Santo.
Nessa época a Grande Vitória passava por acentuadas transformações urbanas decorrentes de dois fatos. O primeiro foram às mudanças econômicas relacionadas ao declínio da monocultura do café, alicerce da economia do Estado por quarenta anos. O segundo foi a implantação de grandes projetos produtivos voltados para exportação, como a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), o Porto de Tubarão, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), a Aracruz Celulose e a Samarco Mineração. Tais fatos ocasionaram, por um lado, a expulsão de grandes contingentes populacionais do campo e, por outro, a atração de mão-de-obra, sobretudo na fase de construção das plantas industriais daqueles projetos.
Em 1978 foi publicado o documento Patrimônio histórico da Grande Vitória: edificações a serem preservadas, composto por um volume para cada um dos quatro municípios que constituíam essa região nessa época (Serra, Viana, Vila Velha e Vitória). O estudo inventariou prédios históricos, realizou documentação fotográfica deles, identificou os períodos de sua construção, o estado de conservação em que se encontravam, desenhou plantas baixas de fachadas, telhados e pisos e elaborou para cada prédio um rol de recomendações a serem adotadas, como restaurações, medidas legais e/ou administrativas voltadas para a preservação e valorização desses prédios, entre outras.
O documento Patrimônio histórico relatório parcial, de dezembro de 1976, descreve a metodologia adotada para selecionar elementos da paisagem, como o patrimônio histórico e o artístico ou cultural, a serem preservados e/ou valorizados. A seleção dos monumentos construídos levou em consideração, além de aspectos históricos e artísticos, a
'personalidade da cidade', naquilo que ela [...] comunica a
quem com ela convive de forma permanente (seus habitantes) ou de passagem (seus
visitantes).
Assim sendo, foram procurados, nas anotações e na memória dos
habitantes, partes que caracterizaram e/ou caracterizam a Aglomeração e que
podem e/ou devem ser valorizados de forma a continuarem marcando a vida da
cidade mesmo quando ela perder seus aspectos de cidade pequena.
Resultou daí a seleção de prédios de interesse histórico, artístico e sentimental (relacionados à memória dos habitantes), de ambientes urbanos ou conjuntos de interesse ambiental, de pontos que propiciam a visualização panorâmica de cenários urbanos, bem como se ponderou a necessidade de criar perspectivas para valorização de elementos inventariados e a preservação dos existentes.
Ainda em 1978, a Fundação Jones dos Santos Neves elaborou o memorial descritivo e o projeto de restauração e paisagismo da igreja de Ponta da Fruta , bem como um projeto de reabilitação da área do porto de São Mateus. Em 1979, concluiu uma proposta de utilização permanente para a igreja e residência de Santo Inácio e dos Reis Magos, em Nova Almeida. Nesse mesmo ano desenvolveu um plano de comunicação visual e estética para placas de sinalização de cidades e bairros da Grande Vitória.
Nos anos 80 o Instituto Jones dos Santos Neves, em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura/Conselho Estadual de Educação, realizou um levantamento “sistemático de todas as manifestações culturais significativas, da produção artística, artesanal e arquitetônica, do patrimônio ambiental e urbano das vilas e cidades, da história oral e do meio ambiente [...]” 15 para subsidiar um programa estadual com o objetivo de recuperar, valorizar e preservar o patrimônio cultural e natural do Estado.
A edição, em 1991, do Catálogo de bens culturais tombados no Espírito Santo, realizado pelo Conselho Estadual de Cultura, é emblemática da migração dos estudos e pesquisas sobre o patrimônio histórico do Espírito Santo para instituições estaduais diretamente relacionadas à cultura, que começam a ser criadas e aparelhadas para desenvolver esta atribuição.
Com a criação da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), em 1996, essa tendência é consolidada. O estudo e as propostas de preservação e utilização de bens históricos e naturais passam a ser de responsabilidade da Gerência de Memória e Patrimônio Cultural e Natural. Além dessa gerência, outras se ocupam do patrimônio imaterial e dos bens móveis, das artes e da cultura em geral no que se refere à formação, produção, preservação, difusão e intercâmbio desses bens culturais.
Para citar alguns exemplos de publicações da Secult, vale mencionar que em 2004 é lançado o Caderno de Cultura, a. 1, n. 1, com mapas dos espaços e de manifestações culturais e de festivais realizados periodicamente no Espírito Santo; em 2005 o 1º Catálogo de produtos culturais do Espírito Santo elenca manifestações e eventos culturais de artesanato, artes plásticas, audiovisual, artes cênicas, música, bem como instituições ligadas a cultura, escolas de samba, projetos culturais e editoras.
No site dessa secretaria , em outubro de 2008, encontramos propostas de ações relacionadas ao Programa de Desenvolvimento da Cultura do Espírito Santo que visam atualizar e aprofundar estudos desenvolvidos pelo IJSN nas décadas de 1970 e 1980 e de divulgação em mídias contemporâneas. Entre essas propostas destaca-se a pesquisa sobre o folclore capixaba, voltada para o mapeamento das manifestações culturais populares do Estado, com previsão de ser disponibilizada através do Atlas folclórico do Espírito Santo e de um site, e a intenção da produção do Manual de referência da iconografia capixaba, contendo símbolos que remetem aos ícones visuais do Espírito Santo. Estes dois exemplos indicam o papel precursor do IJSN no estudo dessas questões em uma época em que as instituições públicas do Estado não estavam aparelhadas para essa tarefa.
É possível concluir que a incorporação de temas relacionados à cultura em geral e ao patrimônio histórico e ambiental, em particular, pela F/IJSN em seus estudos, pesquisas e projetos, relacionados ao desenvolvimento regional e urbano, e aos Planos Diretores Urbanos, nas décadas de 1970 e 1980, certamente contribuiu para mostrar a importância de legados culturais, históricos e artísticos, assim como auxiliou a preservar monumentos ao longo das transformações por que passou o Espírito Santo nos últimos 30 anos, em uma época em que o Estado não possuía instituições destinadas especificamente a essas áreas de estudo.

Possibilidades de contribuição do Instituto Jones dos Santos Neves no debate sobre a cultura no Espírito Santo

A crescente adoção da modalidade de observatório para análise de temas específicos, envolvendo diferentes instituições de estudo, pesquisa, planejamento etc., indica uma tendência a modalidades cooperativas de construção do conhecimento, em adequação ao tempo tecnológico contemporâneo em que a informação passa a ser produzida, estocada e disponibilizada em quantidade e velocidade cada vez maiores, através de redes que potencializam fluxos de pensamento e reflexão.
Em relação à área da cultura, os estudos e pesquisas abordados nesta nota técnica exemplificam parcerias realizadas entre instituições públicas estaduais e municipais e com fundações de pesquisas.
Já não cabe ao IJSN realizar trabalhos sobre o patrimônio histórico e cultural, assumidos nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Atualmente essa atribuição está sob a responsabilidade da Secult. Porém sua tradição de construção de indicadores econômicos e sociais e de realização de estudos, análises e pesquisas relacionados tanto ao urbano como ao regional certamente o qualifica para trabalhar com os dados disponibilizados pelo IBGE como também para realizar parcerias com prefeituras e secretarias de Estado com o intuito de elaborar e executar pesquisas sobre as práticas culturais da população do Espírito Santo.
Para a implantação de uma área de estudos e pesquisas relacionadas à cultura, é benéfico contar com a interlocução de especialistas qualificados, como os que conduziram as bem sucedidas pesquisas exemplificadas nesta nota técnica. Tais especialistas podem desempenhar a função de consultores, contribuindo para a especialização profissional de técnicos do IJSN.

Maria Célia chaves Ribeiro
Técnica da área de Estudos Sociais do IJSN
Notas
1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Informações e Indicadores. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_culturais/2003/default.shtm Acesso em: 16 out. 2008.
2. Idem.
3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos municípios brasileiros - cultura 2006. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_culturais/2003/default.shtm Acesso em: 16 out. 2008
4. Encontros discutem construção e usos de indicadores culturais. In: Revista Observatório Itaú Cultural/OIC, nº 4 (jan./mar. 2008). São Paulo: Itaú Cultural, 2008. P. 9 - 14.
5. Idem.
6. DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole. Cultura e Uso do Tempo Livre na Metrópole. En publicacion: DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole, no. 1. CEM/CEBRAP, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, São Paulo, Brasil: Brasil. Abril - Mayo - Junio. 2004. Acesso ao texto completo: http://www.centrodametropole.org/reportagens_cultura.html
7. MADEIRA, F. Reicher. A cultura paulista em registro atualizado. Fundação SEADE. São Paulo: 2003. Disponível em: http://www.guiacultural.sp.gov.br/default3.asp?link=apr_Seade.asp Acesso em: 16 out. 2008
8. Prefeitura da Cidade de São Paulo. Mapa da juventude, SEPP - Coordenadoria da Juventude. SP: S.d.. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/participacao_parceria/coordenadorias/juventude/projetos/0002 Acesso em: 16 out. 2008.
9. Fundação João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Prestando contas aos mineiros: avaliação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Belo Horizonte: 2003. Disponível em: http://www.fjp.gov.br/produtos/cehc/incentivo_cultura/cult.pdf Acesso em: 15 out. 2008.
10. Fundação Jones dos Santos Neves. Patrimônio histórico: relatório parcial. Vitória, 1976.
11. Fundação Jones dos Santos Neves. Igreja de Ponta da Fruta. Vitória, 1978.
12. Fundação Jones dos Santos Neves. Projeto de reabilitação da área do Porto de São Mateus. Vitória, 1978.
13. Fundação Jones dos Santos Neves. Proposta de utilização permanente para a igreja e residência de Santo Inácio e dos Reis Magos: versão preliminar. Vitória, 1979.
14. Fundação Jones dos Santos Neves. Projeto capixaba: comunicação visual e estética para a Grande Vitória. Vitória, 1979.
15. Fundação Jones dos Santos Neves. Referências culturais do Espírito Santo. Vitória, 1979.
16. Transformação do Departamento Estadual de Cultura em Secretaria de Estado de Educação e Cultura (ES). Catálogo de bens culturais tombados no Espírito Santo. São Paulo: Massao Ohno, 1991.
17. Em 23 de janeiro de 1996 o Departamento Estadual de Cultura, vinculado à Secretaria de Estado de Educação, Cultura, Esportes e Lazer, foi transformado em Secretaria de Estado da Cultura e Esportes, virando Secretaria de Estado de Cultura em 30 de maio de 2003.
18. Secretaria de Estado de Cultura. Caderno de Cultura, a. 1, n. 1. Vitória, 2004.
19. Secretaria de Estado de Cultura. 1º Catálogo de produtos culturais do Espírito Santo. Vitória, 2005.
20. Disponível em: http://www.secult.es.gov.br/default.asp?arq=artesanatos Acesso em: 28 out. 2008.

Bibliografia
BOTELHO, Isaura; FIORE, Mauricio. O uso do tempo livre e as práticas culturais na Região Metropolitana de São Paulo: relatório da primeira etapa da pesquisa. Centro de Estudos da Metrópole. São Paulo, 2005. Disponível em: Acesso em: 15 out. 2008.
DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole. Cultura e Uso do Tempo Livre na Metrópole. En publicacion: DiverCidade: Revista do Centro de Estudos da Metrópole, n. 1. CEM/CEBRAP, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, São Paulo, Brasil: Brasil. Abril- Mayo-Junio. 2004 Acceso al texto completo: http://www.centrodametropole.org.br/reportagens_cultura.html
Encontros discutem construção e usos de indicadores culturais. In: Revista Observatório Itaú Cultural/OIC. n. 4 (jan./mar. 2008). São Paulo: Itaú Cultural, 2008. p. 9-14.
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Fundação Jones dos Santos Neves. Igreja de Ponta da Fruta. Vitória, 1978.
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Fundação Jones dos Santos Neves. Projeto de reabilitação da área do Porto de São Mateus. Vitória, 1978.
Fundação Jones dos Santos Neves. Proposta de utilização permanente para a igreja e residência de Santo Inácio e dos Reis Magos: versão preliminar. Vitória, 1979.
Fundação Jones dos Santos Neves. Referências culturais do Espírito Santo. Vitória, 1979.
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Guia cultural do Estado de São Paulo. São Paulo: 2003. Disponível em: Acesso em: 15 out. 2008.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos municípios brasileiros: cultura 2006. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: Acesso em: 16 out. 2008.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de informações e indicadores. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: Acesso em: 16 out. 2008.
MADEIRA, F. Reicher. A cultura paulista em registro atualizado. Fundação Seade. São Paulo, 2003. Disponível em: Acesso em: 16 out. 2008.
Prefeitura da Cidade de São Paulo. Mapa da juventude, SEPP: Coordenadoria da Juventude. SP: S.d.. Disponível em: Acesso em: 16 out. 2008.
Prefeitura Municipal de Porto Alegre. ASSESPE Assessoria de Estudo e Pesquisa da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Consumo cultural na cidade de Porto Alegre. Porto Alegre: S.D. Disponível em: Acesso em: 15 out. 2008.
Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia. 1º Censo Cultural da Bahia. Bahia: 2006. Disponível em: Acesso em: 15 out. 2008.
Secretaria de Estado de Cultura. 1º Catálogo de produtos culturais do Espírito Santo. Vitória:2005.
Secretaria de Estado de Cultura. Caderno de Cultura, a. 1, n. 1. Vitória, 2004.
Secretaria de Estado de Educação e Cultura (ES). Catálogo de bens culturais tombados no Espírito Santo. São Paulo: Massao Ohno, 1991.


Publicações do Sistema de Informações e Indicadores Culturais do IBGE disponíveis em PDF
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos municípios brasileiros: cultura 2006. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: Acesso em: 15 out. 2008.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de informações e indicadores culturais 2003. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: Acesso em 15/10/2008.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de informações e indicadores culturais 2003-2005. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: Acesso em 15/10/2008.

domingo, 10 de julho de 2005

Mesa Redonda: ... nos espaços expositivos/educativos

VI Seminário Capixaba sobre o Ensino da Arte
I Encontro do Pólo Arte na Escola/UFES
21 a 24 de junho de 2005
Mesa Redonda: ... nos espaços expositivos/educativos
23 de junho

Participantes
Mila Chiovato (Pinacoteca do Estado de São Paulo)
Célia Ribeiro (MAES/SECULT)
Ruth Guedes (Museu Ferroviário)
Coordenadora: Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa)

Comunicação de Célia Ribeiro

Bom dia Milla Chiovato, Ruth Guedes, Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa, Moema Rebouças, equipe do Arte na Escola, Rafaela Zanete, diretora do Museu de Arte do Espírito Santo, demais colegas do MAES, parceiros da SEDU e da UFES e todos os presentes.
Agradeço a Moema por essa oportunidade de refletir e dialogar sobre as atividades que desenvolvemos nos museus onde trabalhamos. Sobretudo por se tratar para mim de uma experiência recente embora já com um tempo suficiente e na hora de ser avaliada de maneira mais sistemática.
Após o relatório das múltiplas e interessantes atividades desenvolvidas pela ação educativa da Pinacoteca de São Paulo, realizado por Milena, cabe pontuar a situação diversa do MAES em relação a esta instituição centenária, referência para museus brasileiros de arte.

O CONTEXTO DO MAES
O MAES é o único museu público de arte no Espírito Santo, estado cujo circuito de artes restringe-se à Grande Vitória. Fruto de luta de artistas e intelectuais, conta praticamente com seis anos de existência.
Por outro lado, embora contemos com importantes espaços expositivos na Região Metropolitana que oferecem mostras relevantes e serviços qualificados de atendimento ao público, suas propostas de curadorias específicas propiciam uma visão fragmentada das artes visuais.
Essa assimetria geográfica do circuito é acentuada pela existência de faculdade de Artes Visuais apenas no campus de Vitória da Universidade Federal.
Soma-se a isso o fato de só recentemente termos acesso a uma produção significativa de estudos sobre a arte contemporânea brasileira. A recente inclusão dessa disciplina no currículo do curso de Artes da UFES decorre da emergência desse pensamento sobre arte contemporânea, propiciador, inclusive, de uma revisão de nossa história artística.
O setor de ação educativa do MAES, em sintonia com a política da Secretaria Estadual de Cultura, vêm traçando suas diretrizes considerando as dificuldades de acesso dos capixabas às artes visuais, tanto ao repertório da produção histórica como à contemporânea nacional e local.

MONITORIA
O público

Além da divulgação através de jornais e canais de televisão locais, dos convites enviados para as instituições e pessoas cadastradas na mala direta do MAES, endereçamos correspondência para todas as creches e escolas de ensino fundamental e médio da Grande Vitória, utilizando o cadastro da SEDU. Nessa correspondência oferecemos visitas monitoradas e informamos que estavamos cadastrando endereço eletrônico de forma a podermos estabelecer um contato mais rápido e barato com os interessados nas atividades promovidas pelo museu.
Privilegiamos, dessa forma, crianças e adolescentes estudantes. Recebemos também visitas de grupos de ONG’s, de alunos da APAE e de outras instituições, além das visitas avulsas. Sentimos necessidade de desenvolver uma política sistematizada de atração do público do entorno do MAES, sejam os bancários e comerciários, sejam os menores que freqüentam e trabalham na rua do centro de Vitória.
Nessa experiência inicial começamos a formatar procedimentos que procuramos implantar como rotina. Hoje contamos, por exemplo, com um cadastro de quase 700 e-mails de freqüentadores de atividades e serviços oferecidos pelo MAES.

Pesquisa
E a monitoria, esse elo para potencializar o diálogo entre o visitante e o trabalho artístico? Pensá-la pressupõe um conceito de arte, uma razão para a arte na existência humana e, sobretudo, para uma população distante do circuito e que o coloca à prova.
Confesso que pensarmos a monitoria e discutirmos em equipe as estratégias de atuação tomando como base tanto conceitos como a intuição. Vou procurar me explicar mesclando a descrição de idéias norteadoras com a prática das visitas de grupos monitorados.
A primeira atividade que realizamos é a de pesquisar sobre a produção dos artistas cujas obras estão expostas. Buscamos informações e estudos em internet, livros e catálogos. Quando possível entrevistamos o artista e visitamos seu ateliê, o que registramos em vídeo.
Procuramos identificar conceitos trabalhados, temática, fatura, a relação entre as obras expostas e a produção desses artistas, bem como o diálogo entre as questões que colocam e os procedimentos realizados com aqueles de outros artistas de sua geração ou de outros tempos, seja por similaridade, por contraposição ou por simultaneidade. Buscamos sistematizar esse material para mapear abordagens possíveis de serem adotadas durante as visitas e também para colocarmos à disposição de professores.
Recepção
A visita a um museu de arte abarca vários aspectos da construção de cidadania. O acesso a bens culturais envolve a noção de individualidade e seus acessos à fruição estética e pensante, de pertencimento a uma cultura, ainda que marcada pela diversidade, de fluxo de tempo, de preservação, de respeito aos outros visitantes, de responsabilidade com as gerações futuras, etc.
Estar em um museu público é poder perceber-se indivíduo e também parte de um coletivo, de estar em um presente e também em um fluxo temporal. Por outro lado, o contato com objetos artísticos nos conecta com possibilidade criativa humana. Num tempo de banalização da violência, de desvalorização da vida e suas conseqüentes seqüelas na auto-estima, a visita a um museu deve possibilitar a alegria por sermos humanos pensantes e criadores.
Receber um grupo envolve o acolhimento, informação e diálogo.
Acolhimento físico no prédio do museu que precisa ser reconhecido como público, com uma história. Percebido como limpo por ter uma equipe que assim o mantém em dedicação aos visitantes, que é solicitado, por sua vez, a assim o preservar de maneira a propiciar o mesmo conforto aos próximos visitantes e não sobrecarregar os funcionários da limpeza.
Buscamos conhecer um pouco os alunos visitantes, através de uma conversa informal iniciada com perguntas sobre suas experiências com museus, o que estão trabalhando em sala de aula, o que pensam sobre arte, por exemplo. Nessa conversa começamos a mapear questões que os possam interessar durante a visita.

Visita às salas de exposição
Antes de entrarmos nas salas de exposição damos algumas informações gerais sobre a mesma, a curadoria, os artistas. Só conversamos sobre os trabalhos expostos após o contato dos visitantes com as obras expostas. Em cada sala aguardamos o tempo que o grupo de visitantes necessita, após o que sentamos para conversar. Esse é um momento de troca onde temos a oportunidade de saber como reverbera em cada um o contato com os trabalhos expostos. Acionamos o repertório estudado para então potencializar o diálogo entre visitantes e obras, seja introduzindo algumas questões que os levem de volta aos trabalhos, seja inserindo informações que contextualizem os trabalhos.
Exercícios complementares
Sempre que possível apresentamos um vídeo que dialogue com a exposição, seja situando-a na história da arte, seja acrescentando informações sobre os artistas com trabalhos na mostra em curso.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES À EXPOSIÇÃO
Voltadas, sobretudo, para professores de arte e aficionados - artistas plásticos, estudantes de arte e arte-educadores, etc. oferecemos mesas-redondas, palestras e oficinas que ampliem e dinamizem o conhecimento sobre os trabalhos expostos no MAES, e subsidiem a compreensão de questões de nossa época pontuadas através do pensamento de diversas áreas do conhecimento como a história, a filosofia, a antropologia, a física, etc.

EXPANÇÃO DAS FRONTEIRAS DO MAES
arte br

Atendendo à política da Secretaria Estadual de Cultura de voltar suas ações para todos os municípios do ES, não se restringindo à região metropolitana da Grande Vitória, participamos, em maio do ano passado, a convite de Moema Rebouças, coordenadora do Pólo Arte na Escola de Vitória, e em parceria com a em Vitória Secretaria Estadual de Educação e Esportes - SEDU, através do núcleo de Currículo de Artes Plásticas, do lançamento do material didático arte br. Nessa ocasião realizamos oficinas e distribuímos, para 210 professores de arte, o kit arte br, aqui em Vitória.
Em junho, como desdobramento dos trabalhos realizados em Vitória, realizamos o Projeto “O museu pega a estrada com o arte br”. Percorremos os demais municípios sede de Superintendências Regionais de Educação (Afonso Cláudio, Barra de São Francisco, Cachoeiro, Colatina, Guaçui, Linhares, Nova Venécia e São Matheus), ocasião em que distribuímos kits para 200 professores de todos os municípios não pertencentes à Grande Vitória e realizamos oficinas para em torno de 1000 professores de arte.
Exposição Itinerante de Gravuras de Dionísio Del Santo na coleção do MAES[1]
Dando seqüência à parceria com a Secretaria Estadual de Educação e Esportes, através do núcleo de Currículo de Artes Plásticas, estamos desenvolvendo esse Evento que inclui a realização da palestra “História da Gravura”, ministrada pelo professor mestre Fernando Gómez, e a oferta da “Oficina Prática de Técnicas de Gravura”, com carga horária de 16 horas, em cada município sede das Superintendências Regionais de Educação (Afonso Cláudio, Barra de São Francisco, Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guaçui, Linhares, Nova Venécia, São Matheus e Vila Velha), estando previsto o envolvimento na oficina de 250 professores de todos os municípios do Espírito Santo, e mais de 6.000 visitantes às exposições.
[1] Já realizados: Carapina - Dezembro 2004: incluiu a re-inauguração da Galeria Álvaro Conde na Secretaria Estadual de Educação e Esportes, Nova Venécia - março 2005, São Mateus - abril 2005, Linhares - maio 2005, Cariacica - junho de 2005.