domingo, 10 de julho de 2005

Mesa Redonda: ... nos espaços expositivos/educativos

VI Seminário Capixaba sobre o Ensino da Arte
I Encontro do Pólo Arte na Escola/UFES
21 a 24 de junho de 2005
Mesa Redonda: ... nos espaços expositivos/educativos
23 de junho

Participantes
Mila Chiovato (Pinacoteca do Estado de São Paulo)
Célia Ribeiro (MAES/SECULT)
Ruth Guedes (Museu Ferroviário)
Coordenadora: Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa)

Comunicação de Célia Ribeiro

Bom dia Milla Chiovato, Ruth Guedes, Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa, Moema Rebouças, equipe do Arte na Escola, Rafaela Zanete, diretora do Museu de Arte do Espírito Santo, demais colegas do MAES, parceiros da SEDU e da UFES e todos os presentes.
Agradeço a Moema por essa oportunidade de refletir e dialogar sobre as atividades que desenvolvemos nos museus onde trabalhamos. Sobretudo por se tratar para mim de uma experiência recente embora já com um tempo suficiente e na hora de ser avaliada de maneira mais sistemática.
Após o relatório das múltiplas e interessantes atividades desenvolvidas pela ação educativa da Pinacoteca de São Paulo, realizado por Milena, cabe pontuar a situação diversa do MAES em relação a esta instituição centenária, referência para museus brasileiros de arte.

O CONTEXTO DO MAES
O MAES é o único museu público de arte no Espírito Santo, estado cujo circuito de artes restringe-se à Grande Vitória. Fruto de luta de artistas e intelectuais, conta praticamente com seis anos de existência.
Por outro lado, embora contemos com importantes espaços expositivos na Região Metropolitana que oferecem mostras relevantes e serviços qualificados de atendimento ao público, suas propostas de curadorias específicas propiciam uma visão fragmentada das artes visuais.
Essa assimetria geográfica do circuito é acentuada pela existência de faculdade de Artes Visuais apenas no campus de Vitória da Universidade Federal.
Soma-se a isso o fato de só recentemente termos acesso a uma produção significativa de estudos sobre a arte contemporânea brasileira. A recente inclusão dessa disciplina no currículo do curso de Artes da UFES decorre da emergência desse pensamento sobre arte contemporânea, propiciador, inclusive, de uma revisão de nossa história artística.
O setor de ação educativa do MAES, em sintonia com a política da Secretaria Estadual de Cultura, vêm traçando suas diretrizes considerando as dificuldades de acesso dos capixabas às artes visuais, tanto ao repertório da produção histórica como à contemporânea nacional e local.

MONITORIA
O público

Além da divulgação através de jornais e canais de televisão locais, dos convites enviados para as instituições e pessoas cadastradas na mala direta do MAES, endereçamos correspondência para todas as creches e escolas de ensino fundamental e médio da Grande Vitória, utilizando o cadastro da SEDU. Nessa correspondência oferecemos visitas monitoradas e informamos que estavamos cadastrando endereço eletrônico de forma a podermos estabelecer um contato mais rápido e barato com os interessados nas atividades promovidas pelo museu.
Privilegiamos, dessa forma, crianças e adolescentes estudantes. Recebemos também visitas de grupos de ONG’s, de alunos da APAE e de outras instituições, além das visitas avulsas. Sentimos necessidade de desenvolver uma política sistematizada de atração do público do entorno do MAES, sejam os bancários e comerciários, sejam os menores que freqüentam e trabalham na rua do centro de Vitória.
Nessa experiência inicial começamos a formatar procedimentos que procuramos implantar como rotina. Hoje contamos, por exemplo, com um cadastro de quase 700 e-mails de freqüentadores de atividades e serviços oferecidos pelo MAES.

Pesquisa
E a monitoria, esse elo para potencializar o diálogo entre o visitante e o trabalho artístico? Pensá-la pressupõe um conceito de arte, uma razão para a arte na existência humana e, sobretudo, para uma população distante do circuito e que o coloca à prova.
Confesso que pensarmos a monitoria e discutirmos em equipe as estratégias de atuação tomando como base tanto conceitos como a intuição. Vou procurar me explicar mesclando a descrição de idéias norteadoras com a prática das visitas de grupos monitorados.
A primeira atividade que realizamos é a de pesquisar sobre a produção dos artistas cujas obras estão expostas. Buscamos informações e estudos em internet, livros e catálogos. Quando possível entrevistamos o artista e visitamos seu ateliê, o que registramos em vídeo.
Procuramos identificar conceitos trabalhados, temática, fatura, a relação entre as obras expostas e a produção desses artistas, bem como o diálogo entre as questões que colocam e os procedimentos realizados com aqueles de outros artistas de sua geração ou de outros tempos, seja por similaridade, por contraposição ou por simultaneidade. Buscamos sistematizar esse material para mapear abordagens possíveis de serem adotadas durante as visitas e também para colocarmos à disposição de professores.
Recepção
A visita a um museu de arte abarca vários aspectos da construção de cidadania. O acesso a bens culturais envolve a noção de individualidade e seus acessos à fruição estética e pensante, de pertencimento a uma cultura, ainda que marcada pela diversidade, de fluxo de tempo, de preservação, de respeito aos outros visitantes, de responsabilidade com as gerações futuras, etc.
Estar em um museu público é poder perceber-se indivíduo e também parte de um coletivo, de estar em um presente e também em um fluxo temporal. Por outro lado, o contato com objetos artísticos nos conecta com possibilidade criativa humana. Num tempo de banalização da violência, de desvalorização da vida e suas conseqüentes seqüelas na auto-estima, a visita a um museu deve possibilitar a alegria por sermos humanos pensantes e criadores.
Receber um grupo envolve o acolhimento, informação e diálogo.
Acolhimento físico no prédio do museu que precisa ser reconhecido como público, com uma história. Percebido como limpo por ter uma equipe que assim o mantém em dedicação aos visitantes, que é solicitado, por sua vez, a assim o preservar de maneira a propiciar o mesmo conforto aos próximos visitantes e não sobrecarregar os funcionários da limpeza.
Buscamos conhecer um pouco os alunos visitantes, através de uma conversa informal iniciada com perguntas sobre suas experiências com museus, o que estão trabalhando em sala de aula, o que pensam sobre arte, por exemplo. Nessa conversa começamos a mapear questões que os possam interessar durante a visita.

Visita às salas de exposição
Antes de entrarmos nas salas de exposição damos algumas informações gerais sobre a mesma, a curadoria, os artistas. Só conversamos sobre os trabalhos expostos após o contato dos visitantes com as obras expostas. Em cada sala aguardamos o tempo que o grupo de visitantes necessita, após o que sentamos para conversar. Esse é um momento de troca onde temos a oportunidade de saber como reverbera em cada um o contato com os trabalhos expostos. Acionamos o repertório estudado para então potencializar o diálogo entre visitantes e obras, seja introduzindo algumas questões que os levem de volta aos trabalhos, seja inserindo informações que contextualizem os trabalhos.
Exercícios complementares
Sempre que possível apresentamos um vídeo que dialogue com a exposição, seja situando-a na história da arte, seja acrescentando informações sobre os artistas com trabalhos na mostra em curso.

ATIVIDADES COMPLEMENTARES À EXPOSIÇÃO
Voltadas, sobretudo, para professores de arte e aficionados - artistas plásticos, estudantes de arte e arte-educadores, etc. oferecemos mesas-redondas, palestras e oficinas que ampliem e dinamizem o conhecimento sobre os trabalhos expostos no MAES, e subsidiem a compreensão de questões de nossa época pontuadas através do pensamento de diversas áreas do conhecimento como a história, a filosofia, a antropologia, a física, etc.

EXPANÇÃO DAS FRONTEIRAS DO MAES
arte br

Atendendo à política da Secretaria Estadual de Cultura de voltar suas ações para todos os municípios do ES, não se restringindo à região metropolitana da Grande Vitória, participamos, em maio do ano passado, a convite de Moema Rebouças, coordenadora do Pólo Arte na Escola de Vitória, e em parceria com a em Vitória Secretaria Estadual de Educação e Esportes - SEDU, através do núcleo de Currículo de Artes Plásticas, do lançamento do material didático arte br. Nessa ocasião realizamos oficinas e distribuímos, para 210 professores de arte, o kit arte br, aqui em Vitória.
Em junho, como desdobramento dos trabalhos realizados em Vitória, realizamos o Projeto “O museu pega a estrada com o arte br”. Percorremos os demais municípios sede de Superintendências Regionais de Educação (Afonso Cláudio, Barra de São Francisco, Cachoeiro, Colatina, Guaçui, Linhares, Nova Venécia e São Matheus), ocasião em que distribuímos kits para 200 professores de todos os municípios não pertencentes à Grande Vitória e realizamos oficinas para em torno de 1000 professores de arte.
Exposição Itinerante de Gravuras de Dionísio Del Santo na coleção do MAES[1]
Dando seqüência à parceria com a Secretaria Estadual de Educação e Esportes, através do núcleo de Currículo de Artes Plásticas, estamos desenvolvendo esse Evento que inclui a realização da palestra “História da Gravura”, ministrada pelo professor mestre Fernando Gómez, e a oferta da “Oficina Prática de Técnicas de Gravura”, com carga horária de 16 horas, em cada município sede das Superintendências Regionais de Educação (Afonso Cláudio, Barra de São Francisco, Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guaçui, Linhares, Nova Venécia, São Matheus e Vila Velha), estando previsto o envolvimento na oficina de 250 professores de todos os municípios do Espírito Santo, e mais de 6.000 visitantes às exposições.
[1] Já realizados: Carapina - Dezembro 2004: incluiu a re-inauguração da Galeria Álvaro Conde na Secretaria Estadual de Educação e Esportes, Nova Venécia - março 2005, São Mateus - abril 2005, Linhares - maio 2005, Cariacica - junho de 2005.